Livro: Corações Feridos

CORACOES_FERIDOSLouisa Reid
(4/5)
Editora Novo Conceito
2013
256 páginas

Sinopse: Hephzibah e Rebecca são irmãs gêmeas, mas muito diferentes. Enquanto Hephzi é linda e voluntariosa, Reb sofre da Síndrome de Treacher Collins — que deformou enormemente seu rosto — e é mais cuidadosa. Apesar de suas diferenças, as garotas são como quaisquer irmãs: implicam uma com a outra, mas se amam e se defendem. E também guardam um segredo terrível como só irmãos conseguem guardar. Um segredo que esconde o que acontece quando seu pai, um religioso fanático, tranca a porta de casa. No entanto, quando a ousada Hephzibah começa a vislumbrar a possibilidade de escapar da opressão em que vive, os segredos que rondam sua família cobram-lhe um preço alto: seu trágico fim. E só Rebecca, que esteve o tempo todo ao lado da irmã, sabe a verdadeira causa de sua morte… Hephzi sonhara escapar, mas falhara. Será que Rebecca poderia encontrar, finalmente, a liberdade?

Opinião: Esse é um tipo de livro intenso. Desses que a gente lê e fica várias horas pensando a respeito. O clima do livro é bem melancólico e triste, mas a história é bonita.
Os capítulos revezam entre antes e depois da morte de Hephzi para contar a história. Os capítulos antes da morte são contados por Hephzi e os depois por Rebecca.
Juntas elas vão contando a história da vida delas. Hephzibah e Rebecca são irmãs gêmeas e filhas do pastor fanático. Elas vivem trancadas dentro da casa paroquial e não podem sair ou ter amigas.

OK. Minha família é maluca. Completamente estranha. Um dia eu vou cair fora daqui, não há dúvida quanto a isso, mesmo que isso signifique deixar minha irmã para trás.
P. 15

Durante toda a infância elas estudaram em casa, com a mãe, mas Hephzi conseguiu convencê-la a ir para a escola normal durante o Ensino Médio para que elas pudessem ter chance de entrar em alguma universidade.
O choque cultural que elas sofreram no início foi enorme, mas elas eram bastante observadoras e conseguiram se adaptar bem, na medida do possível.
Claro que Hephzi, por causa de sua beleza e simpatia, conseguiu se entrosar bem e fazer amigos rapidamente. Mas Rebecca continuava no canto dela, quieta e longe dos olhos das pessoas. Além de tímida, ela tinha medo das pessoas rirem dela e a criticarem por causa de sua aparência (ela nasceu com a Síndrome de Treacher Collins e por isso tem a face deformada).
Como toda adolescente normal, Hephzi quer fazer parte do grupo e para isso, começa a mentir e a sair de casa escondida. Rebecca não tem as mesmas ambições, mas acoberta a irmã nas suas saídas.
Aos poucos, o livro começa a mostrar a terrível realidade em que as irmãs vivem. Elas não tiveram acesso a qualquer tipo de conhecimento que não fosse o bíblico. Não podiam ler ou assistir TV. Não comiam guloseimas ou ganhavam roupas novas. Só tinham poucas mudas de roupas e simples. Não tinham sequer acesso a itens básicos de higiene como shampoo ou absorventes. Elas tinham uma Avó carinhosa e uma tia (Tia Melissa), mas o pai proibiu a visita de parentes.

Foi apenas da Vovó que recebemos presentes; dela eram o único beijo, o único sorriso, a única risada.
P. 95

O tempo todo elas eram humilhadas e chamadas de pecadoras, além de receberem sérios castigos corporais.

Ele nunca pede desculpas. Apenas faz de conta que nunca aconteceu nada. Nós nunca ousamos revidar seus golpes, ainda não. Sei o que aconteceria se fizéssemos isso.
P. 84

As meninas eram tão inocentes que mesmo com 17 anos, elas não sabiam de onde viam os bebês. E por muito tempo elas acreditavam que menstruação era coisa do diabo e um lembrete de que as mulheres são pecadoras.

Antes de começarmos a ir à escola, eu costumava ficar deitada na cama quando estava naqueles dias. Minha mãe não comprava absorvente, então eu enchia minha calcinha de papel higiênico barato, que dava coceira e ficava deitada até me sentir melhor. Tudo voltaria ao normal em poucos dias.
P. 78

Acho que o mais incrível da história é o fato de como a violência doméstica é tão presente e tão óbvia e ninguém faz nada em defesa das meninas. Várias pessoas sabiam ou desconfiavam, mas ninguém se metia no relacionamento familiar ou ligava para polícia para denunciar.
O triste é que essa é a realidade de várias pessoas e crianças e os vizinhos e parentes preferem se omitir a “desmoronar” uma família (que obviamente já está desmoronada).
Uma coisa que eu reparei foi que as meninas sempre se referem aos adultos (pais e parentes) com letra maiúscula. Acho que representou um sinal de respeito em relação a eles. E quem sabe, temor (se formos pensar no pai).

Aos poucos eu estava ajeitando as coisas. Aos poucos estava me preparando. Eu realmente estava partindo. Estava saindo das trevas procurando uma vida. Aquela que esperou por mim todo esse tempo.
P. 233

A capa do livro é linda e reflete perfeitamente a cena do funeral de Hephzi. O título é em alto relevo e achei que a fonte combinou bastante.
A formatação interna é simples, mas gostei. No início de cada capítulo, que tem o nome de cada narradora (Hephzi ou Rebecca), tem uns pequenos ramos. Achei bem singelo.
Apesar da intensidade da história, o livro é fininho e dá para ser lido rapidamente. A narrativa é em primeira pessoa, alternando entre Rebecca e Hephzi. Gostei da alternância, pois assim conheci melhor as personagens e soube o que uma achava da outra e o sentimento em relação à família.

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1 comentário

  1. Essa história parece ser triste. Não conhecia de nome a doença de Rebecca. Fui pesquisar e me lembrei de um documentário que vi sobre um garoto que tinha essa mesma doença. É extremamente triste a história de pessoas que sofrem dessa síndrome. A criança sofre demais, principalmente com o preconceito e com despesas para reconstrução do rosto e tratamentos médicos. Outro aspecto interessante, é que o livro aborda a outra face dos religiosos. Não tinha conhecimento desse livro.