O cara misterioso

Cara Misterioso
Ele era motoqueiro. Calado e com pinta de bad boy.
Nunca soube seu nome, mas gostava daquele jeito misterioso. Ele me fazia rir nas poucas vezes que conversamos.
Ele era gentil, não com todo mundo, mas com quem merecia. Ajudava senhoras a atravessar a rua e carregava suas sacolas da feira. Respeitava idosos e beijava as mãos das mulheres. Parecia ser um cara educado.
Ele gostava dos animais. Acariciava e conversava com cachorros de rua (achei que só eu fazia este tipo de coisa). Eu ria disso e viajava em pensamentos quando ele falava que os bichos eram criaturas de Deus e que por isso foram salvos do dilúvio.
Ele tinha um ar sério e ao mesmo tempo sereno quando encostava no muro e apoiava uma pé na parede para fumar. Sempre a perna esquerda dobrada e o cigarro na mão esquerda. Era assim que eu o via a maior parte do tempo.
Em nossa última conversa ele estava mais sério que o normal e me disse a frase profética “você vai morrer. E, se você for para o inferno, eu estarei lá. Procure por um cara calado, em pé no canto fumando um cigarrinho. Serei eu.”
Eu achei graça e ri. Ele só reafirmou “eu estarei lá”.
Não nos falamos mais. Da última vez que o vi ele estava exatamente em um canto do muro, com a perna esquerda dobrada e o cigarro na mão direita. Tragava lentamente, segurava a fumaça por pouco segundos e a soltava devagar. Ele parecia estar longe em pensamentos. Ao lado dele dois homens estavam discutindo. Ele apenas observava de canto de olho, com a expressão serena. O homem mais exaltado foi forçado a se sentar na mesa do bar pelos amigos. Ele estava próximo, mas não disse nenhuma palavra, deu mais uma tragada no cigarro e o ofereceu ao homem.
Esperei ansiosamente para reencontra-lo no dia seguinte, mas ele não apareceu. Nem no dia após aquele, nem na semana seguinte. Então eu soube: só verei o cara misterioso novamente se eu for uma menina má. Ele estará em um cantinho do inferno fumando um cigarrinho. E conversaremos sobre como os cães merecem o céu.

Imagem: Free Refe

Continue Reading

Violência doméstica

Sabrina era uma jovem órfã de 14 anos, que morava com a mãe e o padrasto. Seu pai morreu em um serio acidente de carro quando ela tinha 8 anos.
Foi um choque enorme para ela e a mãe, mas assim que o período de luto passou, a mãe de Sabrina casou-se novamente com um comerciante do bairro, conhecido por todos devido a sua simpatia e amabilidade.
Mas dentro de casa a situação não era tão amável…

“Hoje dei outro intimato à minha mãe, ou ela se separa do Cláudio ou eu vou embora de casa.
Mas acho que ela não acredita nas minhas palavras, pois sempre me ignora.
Eu não aguento mais ver minha mãe sendo maltratada e humilhada. Ela merece um homem muito melhor, mas ela diz para eu não me meter, que é assunto dela. Só que eu não aguento ver minha mãe sofrendo e não poder fazer nada! Ele fala coisas que a colocam abaixo de lixo e se ela tenta rebater as agressões verbais ele diz que a gente só não está na rua por causa dele, que ele que nos sustenta. Mas eu sei que não é verdade. Minha mãe recebeu uma herança boa quando meu pai morreu. Eu também tenho dinheiro na poupança que ele deixou, acho que a gente conseguiria sobreviver sem o Cláudio. Eu poderia trabalhar também e ajudar em casa, mas minha mãe não quer saber dessa conversa, nem da minha opinião.”

“Fui internada hoje. Muitas dores fortes no estômago. Não foi a primeira vez que senti dores, mas eu tentava ignorar das outras vezes. Dessa vez eu não consegui e desmaiei. Fiz uma série de exames e não tenho nada. O médico acha que pode ser gastrite de cunho emocional. Ele me perguntou se tem algo me deixando nervosa. Eu disse que era problemas na escola, nunca vou contar o inferno que vivo em casa. Se minha mãe não fala nada, não serei eu a falar.”

“Ando tendo sonhos estranhos. Tudo está bem, então o Cláudio aparece e começa a gritar comigo porque eu mexi em uma panela na geladeira. Eu não aguento ficar calada e começo a discutir com ele. Ele vem me bater e eu o acerto com uma faca. Uma, duas… Dez…vinte… Quarenta vezes. Eu só consigo parar quando estou coberta de sangue e o Cláudio está caído inerte e morto no chão da cozinha. A sensação de liberdade que eu sinto no sonho é incrível, mas eu acordo me sentindo culpada. Contei para minha mãe dos sonhos e ela disse que eram apenas sonhos e que eu deveria orar quando acontecesse novamente. Só que acontece todo dia.”

“Fui ao médico novamente. Além do estômago, estou sentindo dores de cabeça, palpitação e muita ansiedade. Minha pressão está alta e minha glicose também. O médico disse que não é normal uma garota de 14 anos se sentir assim. Eu continuo tentando ignorar os sintomas, assim como minha mãe ignora o problema.”

“Fiz minhas malas e ameacei sair de casa de novo. Cláudio matou o Bobby, meu cachorro. Ele atropelou meu bichinho quando estava saindo para trabalhar. Bobby estava dormindo perto do portão e eu vi quando Cláudio acelerou de propósito. Ele tinha um sorriso malvado no rosto e sorriu ainda mais quando viu que o Bobby tinha morrido. Eu gritei com ele e o xinguei muito, mas ele disse com deboche que não viu o cachorro. Eu odeio o Cláudio mais que qualquer coisa!
Então eu fiz as malas e falei que ia embora, mas desisti porque não tenho coragem de deixar minha mãe sozinha com esse monstro.”

“Tive o mesmo sonho novamente. Eu estava na cozinha jantando e o Cláudio chegou. Ele tinha um sorriso debochado no rosto e começou a falar do Bobby e xingou meu falecido cachorro. Disse que um dia teria o prazer de fazer o mesmo comigo. Eu não aguentei e parti para cima dele. O ataquei com a faca e continuei atacando até ser interrompida por minha mãe.
Ela tentou me impedir, mas não tinha mais nada a ser feito. Cláudio estava morto, eu estava coberta de sangue e isso não era um sonho.”

Continue Reading

Nada como o primeiro amor…


“FELIZ DIA DA INDEPENDÊNCIA!”
“Ahhh!! Para você também!” Ela respondeu puxando ele pelo braço, ligando o som e começando a pular e a dançar Independence Day da Melanie C. “This is my independence dayyyy!! My independence day!!”

“Vou te mandar um cartão de natal. Me fala seu endereço completo.” Ela foi direta.
“Ah, não precisa.” Ele respondeu surpreso.
“Eu quero escrever! Adoro enviar cartões de Natal.”
“Tudo bem, anota aí.”
“Deixa eu só pegar uma caneta”.

S.,
Que você tenha um ótimo Natal e que o seu Ano Novo seja excelente!
Te adorooooo!
Bjs,
C.
P.S.: eu só dobrei a carta em forma de coração porque eu gosto desse origami, não pense que são segundas intenções.

L. diz: Ai amiga! Não sei o que eu faço.
C. diz: O que aconteceu?
L. diz: Você sabe que eu e o S. estávamos namorando, mas eu viajei no fim de ano e ele ficou com uma menina. Não é um absurdo?!
C. diz: Nossa! Que horror! E agora?
L. diz: Estou falando com ele. Acho que vou terminar.
C. diz: se você acha que é o melhor.

S. diz: C., não entendo a L.
C. diz: por que?
S. diz: a gente deu um tempo antes do Natal e eu fiquei com uma menina e agora ela está aqui surtando no Messenger.
C. diz: xiiii!!
S. diz: Acho que vou terminar com ela. Menina louca!
C. diz: se você acha que é o melhor.

“Ai, S.! Estou passando mal, acho que vou para casa, esse churrasco não está me fazendo bem.” Disse segurando no braço do amigo.
“O que você tem?” ele perguntou preocupado.
“Não sei ao certo, acho que enjoo.”
“Hmmm… Você está grávida!”
“Ah tá. E quem seria o pai?” ela perguntou debochando dele.
“Eu, oras!” ele respondeu com um sorriso malicioso. Ela deu um tapa no braço dele e foi saindo, com um sorriso bobo no rosto. “Vai pensando…”

“C., TODO MUNDO acha que estamos namorando” ele disse assim que se encontraram naquela tarde.
“Todo mundo quem?”
“Nossos amigos todos”
“Ah” ela respondeu olhando para o chão e ficou um tempo fitando os pés.
“Você quer namorar comigo?” ele perguntou e segurou na mão dela.
Ela não sabia o que responder. Eles eram amigos há muito tempo e adorava essa amizade. Além disso, ele já namorou sua amiga, não sabia que era certo aceitar a proposta. Claro que ela queria, não pensava em outra coisa nas últimas duas semanas a não ser ficar com ele. E sonhava com os beijos dele, imaginava como seria beijar aquela boca carnuda e rosada. Desejava se perder nos braços dele e idealizava como seria se ele retribuísse os sentimentos.
Depois de um silêncio constrangedor, ela levantou os olhos e respondeu: “Quero”.
Eles ficaram tímidos e apenas sorriram um para o outro. “Deixa eu dizer que te amo, deixa eu pensar em você…” ele começou a cantarolar.
“Sabia que esse é o melo da louca?” ela quebrou o clima.
“Como?”
“Hoje contei pras paredes… Louca! Contou para as paredes!” E começou a rir. Ele balançou a cabeça duas vezes e riu junto com ela. E eles riram juntos e trocaram beijos ainda com sorriso nos lábios. E o beijo foi ainda mais intenso e melhor do que ela imaginou. E naquele momento eles tiveram certeza de que era mais que uma paixonite.


27.03
Oi Mor!
Tudo bem com você né?
Eu sei que a gente parece louco, pois nos falamos sempre.
Mor, to aqui na escola, tá um saco! A aula é de inglês, mas a professora é substituta, chata. Mas tudo bem, a gente releva.
Tô morrendo de saudade sua, pois domingo cheguei em casa tarde e quando entrei no Messenger você não estava. Fiquei muito triste.
Mas hoje já é quinta-feira e logo logo vamos nos encontrar.
Você sabe que eu te amo muito, né Mor?
Um grande beijo e outros milhões e milhões de beijos.
Te amo muito,
S.

Data: 12 Jun
Assunto: Feliz dia dos namorados
De: “C.”
Para: “S.”
Mor,
Hoje é o primeiro dos muitos Dia dos Namorados que quero comemorar com você. Você sabe que eu te amo, mas eu não me canso nunca de falar: TE AMO!
Você é tudo mais que eu poderia querer e estar ao seu lado me faz muito bem. Você é uma das pessoas mais importantes na minha vida e estou muito feliz por você estar sempre presente.
Te amo muito, muito, muito, muito, muito!!
Da sempre sua,
C.

Data: 15 Jun
Assunto: Te amo mor
De: “C.”
Para: “S.”
Mor,
Você sabe que você é muita coisa na minha vida. Às vezes eu penso “será que mereço tudo isso?”
Você é tudo que uma pessoa pode querer: carinhosa, compreensiva, amiga, verdadeira, doce, positiva…
Você é muito especial.
Te amo muito,
S.

Data: 15 Jun
Assunto: RE: Te amo mor
De: “C.”
Para: “S.”
Mor,
Claro que você merece tudo que eu faço por você e muito mais. Nunca duvide disso.
Te amo pra sempre.
C.

Continue Reading