Ser adulto é…

A11
Eu acho que ser adulto é ser capaz de tomar decisões sozinho e não depender mais dos pais. Completar 18 anos e sair de casa não tem nada a ver com isso.
De que adianta sair de casa para ir morar sozinho se seus pais montaram sua casa?
Qual a graça de se casar se quem vai decidir como vai ser a decoração de sua casa serão seus pais e sogros?
Eu acho que se é para cortar o cordão umbilical, isso deve ser feito por completo.
Admiro muito minhas amigas que ficaram anos economizando e montando o enxoval antes de casar. Elas pagaram tudo do próprio bolso e no dia que saíram de casa, se teve ajuda dos pais foi apenas porque eles quiseram, não porque precisaram.
Mas vejo tantas pessoas que se sentem maduras e adultas o bastantes fazerem tudo ao contrário e dependerem dos pais para montar a casa, organiza-la e pagar tudo. Eu não consigo me imaginar nessa situação.
Eu tenho casa, comida, roupa lavada e internet de graça. Não preciso pagar por nenhuma despesa minha, então eu posso poupar todo o meu dinheiro para investir na minha futura casa.
Não acho justo ter que depender da minha mãe para isso.
Se eu sair de casa será por vontade minha, então eu terei que arcar com toda responsabilidade financeira dos meus atos.
Claro, que os pais devem auxiliar na montagem da casa, dando opiniões e sugestões sobre o melhor custo-benefício dos produtos, o que realmente é necessário comprar nesse primeiro momento, o que pode ser pedido em um “chá-de-casa-nova”, o que pode ser deixado para depois e outras coisas nesse sentido.
Sei que tem pais que se sentem úteis ajudando financeiramente e presenteando os filhos com móveis, eletrodomésticos e até mesmo com o imóvel, mas se esse fosse o meu caso, eu escolheria os itens e cuidaria da decoração e arrumação. Só para não ficar parecendo aqueles casamentos arranjados de 1910, quando os pais arrumavam tudo e colocavam os filhos casados morando em uma casa.
Eu acho estranho ver uma geração que sempre lutou para ser independente ficar tão atrelada aos pais no ponto mais alto da vida adulta. Isso, definitivamente, não é para mim.

Continue Reading

Não faça Direito!

Themis Fim do Ensino Médio só tem um assunto: vestibular. E esse era um assunto que eu não corria, nem me importava, porque desde os 12 anos eu já sabia o que eu queria fazer.
Nunca cogitei fazer outra faculdade a não ser Direito e sempre que surgia o assunto minha opção era bem elogiada, mas existem alguns mitos que eu não conhecia e se eu conhecesse na época, eu não teria optado por esse curso.
A faculdade de Direito permite que você exerça mais de 60 profissões diferentes. Seu diploma te deixa exercer a função de bacharel em Direito, que não serve para absolutamente nada.
Até um diploma de jornalismo¹ tem mais propósito do que o diploma de Direito.
As opções para um formado em Direito são: fazer a prova da OAB e ser advogado ou estudar para um concurso de analista judiciário ou delegado. Após 2 anos de exercício de atividade jurídica, o bacharel pode prestar concurso para a magistratura (juiz) ou ministério público (promotor). Ou ainda ser professor. E as mais de 60 profissões? São variantes dessas aí.
Todo mundo entra na faculdade da Direito com dois pensamentos na cabeça: mudar o mundo e/ou ficar rico.
Vou começar pela parte financeira.
Com o seu lindo diploma, você sai correndo para se matricular um cursinho² de primeira fase da OAB (R$750,52), paga a taxa de inscrição da prova (R$200,00) e, se passar, vai fazer a segunda fase e se matricula novamente no cursinho (R$430,12). Digamos que depois de todo estresse, você é aprovado. Aí você precisa desembolsar a anuidade (R$500,00 aqui no ES). Agora com tudo prontinho, é só começar a trabalhar e se preparar para receber R$1.000,00 por mês.
Ahh!! Mas você não quer advogar, nem prestar OAB? Então, se matricule em um cursinho para carreiras jurídicas e invista no mínimo R$2.880,21 e comece a estudar em tempo integral. Após uns 2 ou 3 anos de estudo e prestando concursos, você pode ser aprovado em um, com o salário inicial de aproximadamente R$3.500,00 (analista).
Mas concurso de juiz não ganhar quase R$20.000 por mês? Sim, mas você precisa de 2 anos de prática jurídica para se tornar juiz. E claro que quanto maior a remuneração, maior o investimento em cursos, livros, aulas de oratória, etc.
Não é apenas: vou fazer faculdade de Direito, me formar e sair ganhando R$20.000,00. Tudo tem seu tempo…
Agora a parte de mudar o mundo… Bem, eu e a maioria dos estudantes quando entramos na faculdade tínhamos a utopia de melhorar o sistema jurídico, acabar com as injustiças e criar um mundo melhor. Só que o “sistema” (aquele mesmo do filme Tropa de Elite) é tão sujo e “tão foda” que a grande maioria prefere cuidar apenas da sua vida e não se meter com certos tipos para não “sofrer as consequências”.
Direito não te dá status, não te dá lucro instantâneo, a concorrência é enorme e tem que gostar muito da coisa para continuar na profissão.
Não me arrependo de ter terminado a faculdade, afinal de contas, conhecimento nunca é demais (principalmente conhecimento jurídico), mas se eu soubesse metade do que acontece nos bastidores eu teria tomado outra decisão, percorrido outro caminho.
Não quero desmotivar ninguém com o curso ou que desista dessa opção no vestibular, mas parece que nos cursinhos há uma glamouralização dos cursos de Direito, Medicina e Engenharias e os outros são de pouca (ou nenhuma importância).
Só que não existe esse glamour todo no Direito. Há uma supervalorização que não condiz com a realidade, pelo menos eu não consigo ver isso tudo que as pessoas de fora falam.
Depois que eu entrei na faculdade de Direito eu comecei a ver com outros olhos outras profissões e passei a admirá-las melhor e dar seu devido valor, coisa que eu deveria ter feito no ensino médio, mas não fiz porque todos os fatores externos me levaram a crer que todas as outras profissões eram inferiores ou menos importantes. E não são.
Esqueça a parte de status e de ganhar dinheiro e escolha alguma coisa que você goste, eu sei que é clichê, mas tem vezes que é melhor ganhar pouco e viver bem, do que ganhar muito e não poder aproveitar o dinheiro.

¹ Eu respeito muito os jornalistas, acho que o diploma é importantíssimo, apesar da repercussão toda que teve aquela decisão judicial que permitia com que qualquer um pudesse exercer a profissão de jornalista, mesmo sem diploma.
² Peguei os valores de cursinho no site do Renato Saraiva.

Continue Reading

Essa fase “vintage”

vintage
Dizem que ser adolescente é difícil. Nosso corpo está em constante mudança, os hormônios estão loucos, não entendemos as preocupações dos nossos pais e eles não entendem nosso desejo de nos tornarmos independentes. Necessitamos de mais horas de sono, mas nosso cérebro quer permanecer ligado o tempo todo (principalmente nas redes sociais até tarde da noite) e no dia seguinte precisamos acordar cedo para ir para escola.
Os pais, os professores, os parentes, todos ficam perguntando que faculdade vamos fazer e há aquela cobrança toda para o vestibular.
Então essa fase passa e o monstro do vestibular acaba se tornando um gatinho manhoso de tão inofensivo. Não estou menosprezando essa fase, mas quando passa percebemos que não é o fim do mundo não saber que curso escolher ou que não é porque seu melhor amigo passou na faculdade que você vai ficar para trás.
O fim do mundo começa quando a faculdade termina.
Durante a adolescência somos menores de idade para sair, dirigir, beber e nem todo mundo tem seu próprio dinheiro. Mas isso muda durante a faculdade. Temos mais liberdade para sair, tiramos a carteira de motorista, encontros da faculdade são regados à bebidas alcoólicas e quando conseguimos estagiar temos uma merreca garantida na carteira todo mês.
Temos férias duas vezes por ano, nossa responsabilidade aumenta um pouco, mas não tanta. Surtamos a cada 6 meses com as provas finais, mas depois podemos dormir até tarde por pelo menos 30 dias, que é quando as aulas recomeçam.
Ninguém te cobra nada, a não ser o convite de formatura e tudo parece ir muito bem, apesar de reclamarmos que as provas nunca acabam, que os trabalhos são gigantes e que as noites de sono são curtas. Até que um dia, depois de 4 ou 5 anos, isso tudo acaba.
E agora?
Agora, meus caros, é que começa o problema. Conseguir emprego, trabalhar, pagar as próprias contas… em tese seria assim, contudo a realidade é bem diferente…
Mas eu quero trabalhar em uma empresa privada ou prestar um concurso público? Será que eu fiz a escolha certa quando optei por essa faculdade? Minha amiga já está trabalhando em uma grande empresa e ganhando muito bem e eu continuo desempregada. Aquele colega burro da turma passou em um concurso super difícil e eu nem em concurso de nível médio passo. Meu amigo ficou noivo e eu não pego nem gripe. Uma colega de turma se casou e vai passar a lua de mel em Cancun. Outra colega está fazendo intercâmbio no Canadá. Será que eu deveria fazer uma especialização no exterior? Minha amiga está terminando o mestrado. Eu deveria fazer mestrado também? Um conhecido acabou de terminar a segunda faculdade? Será que eu escolhi a profissão certa? Será que eu gosto mesmo do que eu faço? Será que vou gostar disso daqui a 30 anos ou vou me acomodar para sempre nesse emprego medíocre? O primeiro filho do meu amigo nasceu. Aquela colega da outra turma voltou grávida da lua de mel. Encontrei com um amigo de infância no supermercado, ele tem o próprio negócio, é casado e a esposa está grávida. Será que eu deveria me casar? Será que eu deveria ter filhos? Se eu não tiver filhos agora, será que eu não ficarei muito velha para isso? Por que eu ainda não encontrei minha cara metade? Até tenho dinheiro para sair todo final de semana, mas não tenho mais ânimo para isso, como eu conseguia fazer isso na faculdade? Afinal, por que quando eu saio não encontro mais ninguém da época da faculdade nessas baladas? Não aguento mais morar com meus pais, mas as despesas da casa são tão caras. Meu melhor amigo comprou um apartamento no bairro nobre, eu compro um carro agora ou junto dinheiro para dar entrada no meu apartamento?
Se não bastasse todas essas perguntas que temos constantemente ainda somos obrigados a responder: “Já formou? Está trabalhando? Em que? Já casou? E os filhos?” todas as vezes que encontramos com alguém que não vemos há algum tempo ou alguma tia chata. Nessas horas dá uma saudade de quando a única pergunta era: “vai fazer faculdade de quê?”.
Nós, os vintage, ainda somos precipitados, não temos paciência de esperar a hora certa, ficamos comparando nossa vida com a dos conhecidos, adoraríamos voltar aos 17 anos – com nossa mãe brigando com a gente de manhã para irmos para a escola – e morremos de medo de chegar aos 30.
Por favor, tente nos compreender, estamos apenas começando a andar com nossas próprias pernas.

*No mundo da moda o termo vintage é usado para uma peça que possua os seguintes requisitos: pelo menos 20 anos de antiguidade, ser testemunha de um estilo próprio ou de um estilista, não haver sofrido nenhuma transformação (releitura), e ainda representar um instante da moda e estar em perfeito estado. Mas comecei a usar o vocábulo entre os meus amigos para me referir aos jovens entre 20 e 30 anos.

Continue Reading